Orientação Espiritual: Uma aproximação de Deus em nós



O diálogo existencial e a orientação espiritual não são coisas só de hoje, na Antigüidade greco-romana já acontecia algo semelhante. Diria que desde tempos remotos a pessoa humana tem necessidade de ser ajudada; aceita ter ajuda adequada às necessidades pessoais.

No Novo Testamento, principalmente nos escritos paulinos, aparecem exemplos fartos de direção espiritual pessoal e comunitária, porém, o desejo de uma vida ascética e mística fez com que se procurasse sistematicamente a direção espiritual. Foram duas as causas da busca desta orientação: a fidelidade ao ideal de santidade da vida cristã e a dificuldade de se recorrer a um confessor, devido à severidade da prática penitencial. A afirmação, de um modo regular, da direção espiritual aconteceu devido ao desenvolvimento do eremitísmo, da vida monástica e das diversas formas de vida consagrada.


Muitos foram aqueles que ajudaram para que essa prática se espalhasse e adquirisse novas características. Assim, Antão, no oriente, ensina aos novatos que iam à experiência de deserto, uma pedagogia de direção espiritual, cuja característica era a submissão total à palavra do ancião a quem buscava ajuda. No ocidente, Cassiano torna acessível aos monges a experiência e a sabedoria dos monges do oriente.


Francisco de Assis trás para a direção espiritual a dimensão fraterna, já Teresa e Inácio acentuaram a primazia incondicional de Deus.


A devotio moderna utilizou a técnica do livro como meio de transmissão de uma pedagogia de aprofundamento pessoal da vida espiritual. Mais tarde, no século XVII, auge da direção espiritual, Francisco de Sales retoma e difunde o que se tinha iniciado com a devotio moderna.


No século XVIII a direção espiritual assume uma figura autoritária. O discurso concentra-se na figura do diretor como sua expressão.


Com o surgimento das ciências humanas, a prática da escuta e a relação de ajuda influenciaram a reflexão sobre o papel do conselheiro espiritual que pós o Vaticano II, sua função foi substituída por outras funções.


Hoje a direção espiritual não corresponde mais à imagem e função tradicional do diretor ou padre clerical. Ela acontece quando a pessoa realiza um encontro pessoal com Deus e se encontra com alguém que entende perfeitamente esta experiência; é consciente da mesma para um colóquio. Portanto, o acompanhamento espiritual hoje é caminhar ao lado do(a) orientando(a), fazer com que ele(a) descubra seu caminho no Espírito a partir do espaço que Lhe é dado. Desse modo, o(a) orientador(a) espiritual ajuda o(a) orientando(a) a crescer na fé, na esperança, no amor, para descobrir o caminho da vida, no seguimento de Cristo, que conduz ao Pai e aos irmãos.


Diante disso, não se pode esquecer que o mais importante na direção espiritual é a pessoa poder exprimir ao outrem aquilo que lhe afeta no encontro com a Palavra de Deus e este lhe propõe uma atividade de discernimento permitindo que se remeta a si mesmo.


Pe. Danilo Mandoni, a respeito do papel do(a) diretor(a) espiritual, diz que ele(a) está no meio de possibilidades e caminhos, sua função é ajudar ou situar a trajetória da relação mútua entre Deus e o(a) dirigido(a) no espaço e no tempo criados pela própria relação. Ajudar o(a) dirigido(a) na interpretação da própria experiência numa chave de leitura que seja nova em relação às leituras não espirituais; ajudar a perceber e localizar os sinais ou as marcas da presença de Deus.


Para isso o(a) diretor(a) espiritual precisa ter bem presente alguns pontos base , como a confiança em si para que possa ser humilde ao acolher a pessoa sem ser opressivo(a); capacidade de superar os conflitos que possam provir do papel de diretor(a) espiritual; reconhecer os limites culturais, sociais e políticos nos quais vivemos e dos quais fazemos parte; não depender doa) dirigido(a) e ter liberdade interior para dirigir com autoridade a pessoa dirigida; capacidade de aceitar fortes emoções e pôr último, desenvolver uma relativa tolerância à dor provocada pôr certas experiências que gostaria de carregá-las para ajudar o(a) dirigido(a).


Que tal, após ter lido este artigo, procurar alguém de sua inteira confiança e capacidade para ser aconselhado(a) espiritualmente. A experiência é fantástica! É Deus em nossa história falando para nós mesmos.


por Pe. Luiz Paulo Fagundes

Fonte: Site Igreja Hoje

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